quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Férias

Terça-feira. O dia começa ruim. Os caminhos novamente se mostram confusos...para onde devo olhar? Qual deles seguir? Não sei, juro que não sei, talvez se soubesse não estaria aqui, escrevendo.
Saio um pouco de casa, olho as vitrines, pago uma conta, reclamo ao gerente do banco - coisa que tenho feito nos últimos meses - cobrança indevida, falo. Ele sorri, já não me aguenta mais...
Antes de ir para casa lembro de passar no supermercado, é mais um tempo que tenho para pensar em tudo o que não está acontecendo. Continuo triste e o dia começa a nublar.
A caminho de casa recebo uma ligação, marco um café com uma amiga para mais tarde. Quem sabe poderemos nos ajudar? Uma conversa, um café, alguns risos, talvez.
Meu marido deve saber que estou para explodir, silencia. Agradeço.
Com a chegada de minha amiga o tempo vai passando, conversamos a respeito de muitos assuntos, mas o principal é o nada que está acontecendo em nossas vidas. Não estou aqui a falar de problemas sentimentais mas sim dos profissionais. Estudamos, nos esforçamos, nos especializamos e absolutamente nada.
Já não é a primeira vez que penso em desistir e "chutar o balde" como muitos dizem. Voltar meus esforços para outra área, tentar me estabelecer em um outro ambiente? Mas penso: e o que estudei? Perdi tempo? Será que nesse país não conseguirei exercer minha profissão com dignidade?
As respostas não são nada otimistas. Penso em sair daqui. Lecionar em qualquer outro país onde minha graduação e minha especialização sejam reconhecidas, onde eu possa ter orgulho de dizer: sou educadora.
Mais uma vez fico sem saber qual rumo tomar.
Em meio a tanto questionamento recebo uma ligação. Meu marido diz que é surpresa...então deve ser bom.
A voz fina, ainda em mudança, me chama:
- Tia?...
Meu coração acelera, creio ser a resposta de Deus. Meu aluno, meu querido aluno do 2º ano me liga durante as férias. Quer me contar como tem passado, o que tem feito, e também quer saber:
- Tia, como estão as coisas aí?
Engulo o choro, respondo que está tudo bem, que estou com saudades das bagunças, das conversas. Ele ri. 
Pergunto mais algumas coisas e a ligação cai. 
Fico tão feliz que esqueço por alguns minutos da tristeza que venho carregando em meu coração desde o final do ano letivo. Mal sabe ele que me fez um bem.
Ainda não sei o que vou fazer e mais do que isso, profissionalmente não tenho para onde ir, nem sei se realmente quero voltar para sala de aula, para escolas onde a regra é o assédio moral, a estupidez, a falta permanente de verdade, o descuido com a educação. 
Só tenho um pensamento: que os profissionais que venham a lecionar para os meus alunos não deixem que eles percam tudo o que construímos juntos - os valores morais, o afeto, o respeito... Enfim, que não os transformem em alunos-robôs, em cidadãos dissimulados e livres de qualquer respeito ao próximo.
A minha dor aumenta, se pudesse levaria a minha turma aonde quer que eu fosse...
(Amanda Azevedo)

Sem aviso 

Sem aviso, 
O vento vira 
Uma página da vida. 
(Helena Kolody)

3 comentários:

  1. Oi Amanda.
    Sei o que sente.
    Vontade de te abraçar forte e chorar um tanto, esperando o tempo passar.
    Um beijo.

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  2. Dias e dias pensando em escrever-te
    dividida entre a necessidade de ser
    breve e a urgência de ser clara.En-
    tão fiquei entre os óbvios caminhos
    que conheces bem:ou uma vida 'fran-
    ciscana'e pouco valorizada ou novos
    rumos,outras possibilidades.És mui-
    to jovem,Amanda,e a vida é múltipla
    mas não se vive impunemente.Traba-
    lhei 32 anos entre rede pública,par
    ticular,Universidade,cursinho pré-
    vestibular...Participei ativamente
    do Sindicato-CPERS - durante 13 gre
    ves,a primeira em 1979.Trabalhei até 65h semanais...E estou aposenta
    da e tudo isso,às vezes,parece um
    passado 'irreal':como consegui?O preço foi bem alto:abandonar as leituras,as músicas,muito da vida
    social,familiar e amorosa,sei que podes imaginar.No meu caso,havia um
    romântico'não sei fazer mais nada..
    Muitas amigas foram para a taquigra
    fia e, Tribunais e afins,outras fizeram outros concursos públicos melhor remunerados,outras colocara-
    ram pequenos negócios.Resultado???
    TODAS NOS DEMOS BEM!!! TODAS passa-
    mos por períodos difíceis,tenha cer
    teza.Prevaleceu,creio,a RAZÃO.Creio
    que só a RAZÃO pode nos levar a decisões sem LÁSTIMAS.ESCOLHI e vou
    arcar com minha escolha.Vou pagar o
    PREÇO.És jovem,garota,e creio que
    podes lutar por uma vida MELHOR para ti.Teus aluninhos,na verdade,
    nunca serão verdadeiramente TEUS.
    Passarão para outras mãos,outras cabeças,em diversos momentos de suas vidas.E,crianças que são,embo-
    ra nunca te esqueçam,oferecerão seu afeto a outros corações,porque
    isto É ESTAR VIVO!!!!Perdoe-me a 'invasão',mas percebo em ti algu
    guém com muito POTENCIAL,alguém que pode FAZER DIFERENÇA,ONDE QUER QUE ESTEJA!!!!! CUIDA DE TI,DA TUA VIDA!!!!APROVEITA TUA JUVENTUDE não
    para lastimar o que não pode ser,
    mas para CONSTRUIR o que REALMENTE
    MERECES e QUE TAMBÉM PODERÁ FAZER-
    TE FELIZ!!!!! Carinho da Domênica.
    rbdomenica@gmail.com

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  3. Queridos,
    Estou mais uma vez sem saber pra onde correr... É complicado, é ruim, é um estado de alma que pensei não sentir tão cedo novamente, mas eis que a vida me "joga na cara" antes até do que eu pensava...
    Rainho, já chorei tanto de raiva! E olha que as lágrimas ainda aparecem, seria melhor se já não as tivesse mais...
    Domênica, não quero uma vida franciscana embora ela esteja comigo desde os 14 anos, e isso faz 14 anos...meu Deus!!! Tinha a sensação que eras da área, não sei bem o motivo, mas podia sentir em tuas palavras o amor que também dedico aos meus.
    Agradeço o conselho, sei que minhas crianças não são minhas de verdade, tive que aprender a lidar com esse fato...(risos)
    Vou encontrar o meu rumo, preciso encontrar: hei de achá-lo.
    Com carinho,
    Amanda

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Comentários: