sexta-feira, 25 de julho de 2008

A lucidez perigosa,de Clarice Lispector.

Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum:é uma lucidez vazia, como explicar?Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo:pois estou infinitamente maior que eu mesma,e não me alcanço. Além do que: que faço dessa lucidez?Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano- já me aconteceu antes. Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade - essa clareza de realidade é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus,porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis.
Eu consisto,eu consisto,amém.

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