segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Haver, de Vinicius de Moraes.

Diante de tantos acontecimentos, de tantos sofrimentos, de tamanha angústia, cabe neste local o postar do poema abaixo... Quem quiser pode chorar: terá a minha companhia.
[...]
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos Essa inércia cada vez maior diante do Infinito Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
[...]
Resta esse coração queimando como um círio Numa catedral em ruínas, essa tristeza Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado De pequenos absurdos, essa capacidade De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade De aceitá-la tal como é, e essa visão Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior De mundos inexistentes, e esse heroísmo Estático, e essa pequenina luz indecifrável A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
[...]
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto Esse eterno levantar-se depois de cada queda Essa busca de equilíbrio no fio da navalha Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo Infantil de ter pequenas coragens.
P.s: Em itálico sou eu, hoje...

2 comentários:

  1. ...começei a aprender a viver, quando começei aprender
    a ouvir-me.
    A partir daí, ouvir os outros,
    se tornou uma possibilidade real.
    Um beijo saudoso.

    ResponderExcluir
  2. Contigo, ao pé da cama... pra chorar ou não!

    Sempre!
    "Amot-te tanto meu amor..."

    ResponderExcluir

Comentários: