domingo, 26 de abril de 2009

Cuidado, de Carlos Drummond de Andrade.

    Cuidado

A porta cerrada não abras. Pode ser que encontres o que não buscavas nem esperavas.

Na escuridão pode ser que esbarres no casal em pé tentando se amar apressadamente.

Pode ser que a vela que trazes na mão te revele, trêmula, tua escrava nova, teu dono-marido.

Descuidosa, a porta apenas cerrada pode te contar conto que não queres saber.

3 comentários:

  1. Mas, quem resiste ao mistério?

    Vivemos, entre outras coisas, da imaginação.

    Pedir isso é um contrasenso, um absurdo!!!!

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  2. Amiga, adorei.

    Confesso que, por outras razões, aprendi a conter minha curiosidade ante a portas cerradas. Perde-se com isso? Sim! Mas a probabilidade de ganhar é só de 50%...

    Beijos!

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  3. A curiosidade visual humana não tem limites. Precisamos ver. Já dizia Tomé: "se eu não ver de forma alguma crerei". E é essa curiosidade frente ao des-conhecido que nos faz aventureiros; mas também faz de nós imprudentes navegadores de mares bravios. Risco de morte. O que resta, senão encararmos o inevitável perigo de nos lançarmos vez em quando e olharmos pela frestas as mais diversas. Como as frestas abertas de corações abertos.
    O que nos resta é desbravarmos, com coragem. E no mínimo percebermos que olhar pelas frestas é inevitável. O que não podemos é arrombar as portas fechadas.
    No fundo toda fresta deixada, pode ser fresta pela qual se quer ser olhada.
    Rodrigo.

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Comentários: