quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Quase, de Anderson Piva

O amor nasce velho em qualquer coração; é fruto tardio de ancestralidades feridas, de descompassos hereditários, do choro antigo das várias gerações, resultado inebriante dessa magia de converter lágrimas numa quase-cachaça. Todo amor nasce marcado de lutas recentes, mas findas; soldado conhecedor de cada canto do seu campo de batalha, dos requintes militares, dos artifícios bélicos da marcial arte de amar; discípulo virado em mestre, professor da triste ciência de tornar sangue num quase-veneno. Todo amor nasce maduro. Superada a longa seca, a intempérie, eis que surge indene com a esperança perene de uma vida que é quase-renúncia. Todo amor nasce morto, já vivido, já cantado, já doído, já amado. Todo amor nasce duro, escudo de ancião experimentado, que esconde um quase-menino indefeso. Todo amor nasce quase; e se é todo, não o é. Todo amor nasce pedra perpétua, e perdura na solidez de um silêncio que é quase confissão.

3 comentários:

  1. queria selecionar um trecho como o melhor, mas não deu... o texto é todo lindo!!

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  2. Quase não consegui...
    Mas consegui ler com candura...
    necessária a todo texto quase perfeito.

    Um abç e parabéns pelo blog,

    Com afeto,

    Rodrigo.

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Comentários: